A pandemia de Covid-19 deixou em segundo plano o processo eleitoral que vai escolher (ou reconduzir) chefes de prefeituras e ocupantes das câmaras municipais. Por outro lado, a necessidade de responder de forma adequada a um inimigo que ameaça vidas e tomar decisões corretas em um cenário de tantas incertezas pode influir, e muito, no veredito das urnas. Não apenas no fim do ano, mas também em 2022, já que os governadores têm nas mãos responsabilidade sobre as estratégias de ação.
No caso específico de Minas, tanto o governador Romeu Zema (Novo) quanto o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), assim como os de vários outros municípios, estão sendo testados duplamente nesse 2020. Planos de governo e estratégias de atuação se viram atropelados primeiro pelas chuvas de janeiro e fevereiro, que provocaram a morte de mais de 60 pessoas no Estado e provocaram incontáveis prejuízos com sua ação devastadora. Agora se confrontam com uma crise sem precedentes que não se limitará à resposta na área de saúde, mas trará consigo um cenário de desemprego, encolhimento da atividade econômica e recessão. E, ainda, a perspectiva de caixa mais vazio para o restante dos respectivos mandatos.
Para o cientista político Malco Camargos, é inegável que a pandemia terá impacto também nos próximos processos eleitorais. E com efeitos distintos na disputa municipal e estadual: “Todo evento que mobiliza a vida dos eleitores naturalmente tem relevância política. A pandemia mobiliza em vários aspectos: pessoal, profissional e social. Não há dúvida de que ela será o principal tema da eleição municipal de 2020. Um divisor de águas se apresentará entre aqueles prefeitos que conseguiram gerar alguma estrutura e amparo para o cidadão quando ele precisou do poder público; e os que não. Alguns prefeitos vão crescer muito neste momento, enquanto outros vão perder muito de sua reputação”, prevê.
Camargos antevê um impacto negativo para o processo de 2022. “Caso a situação financeira siga comprometida como se acredita, aquilo que era esperado em relação a realização, planejamento do mandato terá de ser revisto completamente. Com o agravante de que já estaremos num período distante da pandemia. Se alguns mandatários tendem a ganhar em 2020, para 2022 todos tendem a perder. As pessoas já terão esquecido o que possa ter sido feito de bom no momento de crise. A popularidade que qualquer governador esperava em 2022 estará comprometida pelos resultados da pandemia, independentemente do seu desempenho”.<EM>
Alinhamento
O especialista ressalta que o posicionamento em relação ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) também embute riscos. “Enquanto Kalil tem se colocado como oposição a Bolsonaro, Zema tem procurado se colocar como alguém com algum alinhamento. Estar alinhado a alguém cuja popularidade se mostra em queda significa também assumir o ônus que isso representa”, conclui.
ALÉM DISSO
Um retrato coerente do cenário eleitoral é o oferecido pelas pesquisas de opinião e avaliação dos mandatos. Que, no entanto, ainda não englobam o principal período da pandemia, o que inclui as regras de isolamento social e a conduta dos prefeitos e do governador (no caso específico de Minas Gerais) no enfrentamento à Covid-19.
O último levantamento envolvendo popularidade e aprovação de Alexandre Kalil e Romeu Zema foi elaborado no começo de março pelo Instituto Paraná Pesquisas e dá algumas pistas e tendências.
No caso do prefeito de Belo Horizonte, a aprovação à sua administração chega a 74,6%, índice considerado bastante elevado e que reflete o panorama das avaliações anteriores – a desaprovação se situa em 22%.
Da mesma forma, os cenários estimulados para as eleições originalmente previstas para outubro (com possibilidade de adiamento avaliada pelo Tribunal Superior Eleitoral) indicam a reeleição em primeiro turno do ex-presidente do Atlético.
Os números referentes à administração de Zema se mostram mais equilibrados. Sem considerar, por enquanto, o processo sucessório de 2022, diferentemente do cenário municipal, sua aprovação chega a 48,9%, ao passo que a desaprovação se situa em 46,5%.